Abuso sexual infantil: quem protege as crianças?
- Lanume Weiss
- 6 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

Em 2018, o Brasil registrou 32 mil casos de abuso sexual infantil e estima-se que apenas 10% dos episódios sejam notificados às autoridades
A violência sexual contra crianças e adolescentes ainda é um tabu. Por este motivo, falar sobre o problema é um passo muito importante para evitar este tipo de crime. Em 2018, o Brasil registrou ao menos 32 mil casos de abuso sexual infantil, o que equivale a mais de três casos por hora. Este é o maior índice de notificações já registrado pelo Ministério da Saúde.
De acordo com o Disque 100, canal de monitoramento das denúncias de violação dos direitos humanos, entre 2011 e 2017, 92% das denúncias de violência sexual infantil tinham vítimas do sexo feminino. Dados no Ministério da Saúde mostram que 40% das vítimas tem entre 10 e 14 anos, 21% dos casos eram crianças de 1 a 5 anos e 19% das vítimas eram adolescentes de 15 a 19 anos.
A criança que está sendo abusada pode apresentar mudança de comportamento, um alerta sobre a situação que está passando. Segundo a psicóloga Neusa Girardi, a criança sempre dá uma dica. “Às vezes, o sinal está na sua própria introspecção. A vítima se isola das outras pessoas, evita conversas, chora aparentemente sem motivo… Às vezes, pode ser um comportamento físico ou algumas manchas no corpo. Por isso, é importante sempre estar atento”, explica.
A vítima pode ser um parente, um amigo, um aluno, e pode sentir-se acuada e com medo de denunciar. Desse modo, o mais importante é criar um ambiente acolhedor para que esta criança abusada possa contar sobre o que está passando. “Muitas vezes, não é em uma primeira conversa que a vítima irá se abrir. Então, crie brincadeiras, fale sobre a escola, os amigos, até que ela se sinta confortável e segura”, indica a psicóloga.
Segundo o Disque 100, mais de 70% dos casos de abuso sexual e exploração infantil são praticados por pais, mães ou outros parentes da vítima. Segundo os números do Ministério da Saúde, dois em cada três dos episódios de abuso registrados em 2018 ocorreram dentro de casa.
Eu fui abusado pelo meu tio por cinco anos. Nunca tive coragem de contar para minha família, muito por medo de levar a culpa, mas também por sofrer ameaças do abusador. Meu tio dizia que se eu não deixasse ele fazer aquilo comigo, ele faria com a minha irmã mais nova. Nico (vítima de abuso sexual que preferiu não se identificar)
De acordo com a professora de ciências Edmara Guimarães Barboza, a melhor forma de evitar o abuso sexual é ensinando a criança sobre as partes do corpo e sobre lugares que ninguém pode encostar. Um assunto bastante discutido nos últimos anos é a implementação da educação sexual nas escolas.
“A criança precisa ter o autoconhecimento. É necessário que ela entenda sobre o seu corpo e o seu espaço, para que assim perceba quando este espaço foi invadido”, explica Edmara. “Educação sexual não é aprender sobre sexo, é aprender sobre seu próprio corpo. A criança tem dificuldade de contar para alguém sobre o abuso, principalmente quando ela não consegue estabelecer o limite entre um carinho saudável e um assédio/abuso”, afirma.
Como denunciar
As denúncias podem ser realizadas na delegacia ou conselho tutelar de cada cidade. Ou pelo Disque 100. Após a queixa realizada, a criança fica sobre proteção do Estado. A conselheira tutelar Ana Carolina Oliveira explica que as vítimas recebem apoio psicossocial.
“Aplicamos as medidas específicas de proteção que encontram-se no Estatuto da Criança e do Adolescente. Depois da denúncia, a criança é encaminhada ao Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) da sua cidade. O Creas irá atender o direito violado, trabalhando não só a vítima, mas também a família, oferecendo atendimento psicológico, médico e, se necessário, medicação controlada”, exemplifica Ana.
De acordo com pesquisa levantada pelo instituto Childhood Brasil, estima-se que apenas 10% dos casos de abuso sexual e exploração de crianças e adolescentes sejam, de fato, notificados às autoridades. Por isso, dar voz à campanha contra o abuso sexual infantil é alertar a população para que denuncie e ajude a lutar contra o crime. Disque 100.
Por um tempo o abuso sexual me fez esquecer quem eu era. Mas conforme fui ficando mais velho, aprendi a lidar com isso. Hoje é uma lembrança ruim que já não me afeta mais. Nico (vítima de abuso sexual que preferiu não se identificar)
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