O custo social e ambiental da reciclagem
- Lanume Weiss
- 6 de fev. de 2021
- 3 min de leitura

A conscientização é necessária para garantir o futuro da humanidade e da vida do planeta Terra
Uma cidade onde não há árvores e o ar é comercializado em galões como a água. Essa é a realidade da animação O Lorax: Em Busca da Trúfula Perdida, da Illumination Entertainment. O filme conta a história do personagem Umavez-ildo que é cegado pela ganância e derruba até a última árvore do vale para enriquecer. Enquanto desmata, o personagem encontra Lorax, o defensor da natureza, que tenta o impedir da crueldade.
A história do filme é parecida com a realidade. Segundo estudo do Ministério do Meio Ambiente, a humanidade já consome 30% mais recursos naturais do que a capacidade de renovação da terra. Caso esse padrão se mantiver, em menos de 50 anos serão necessários dois planetas Terra para atender às necessidades de água, energia e alimentos da população.
Nesse momento, é importante ampliar o conceito de consumo, explica Antonio Silveira Guerra, professor especializado em Ecologia e Problemática Ambiental. “Precisamos citar os 5Rs: repensar, recusar, reduzir, reutilizar e reciclar; pois eles são a inversão do processo capitalista de extrair, produzir e descartar”, comenta.
No Brasil, cerca de 240 mil toneladas de lixo são produzidas diariamente, sendo que apenas 2% dele é reciclado. “Quando você pensa que são mais de 7 bilhões de pessoas consumindo e produzindo resíduos diariamente no planeta, faz toda diferença você lembrar do custo ambiental e social que a produção, o transporte e o descarte de um produto pode acarretar em problemas para o mundo em que vivemos, sem ao menos ter real necessidade”, esclarece Antonio.
A lógica dos 5Rs, apresentada pelo ecologista, é: repense hábitos e reduza o consumo de produtos, recuse empresas que não tenham compromisso com o meio ambiente, reutilize e amplie a vida útil de um produto e recicle, pois a reciclagem diminui a quantidade de lixo jogado na natureza e de energia e matéria-prima utilizada para a produção de novos produtos.
A reciclagem também gera trabalho e renda para milhares de pessoas, através da coleta seletiva, como é a realidade de Sandra e Aurélio. O casal trabalha há 20 anos recolhendo, separando e reciclando o lixo coletado, sendo esse o meio de vida e renda para a família. “Saímos eu e meu marido, junto com nossos dois filhos e a carretinha engatada no Fusca, por aí recolhendo o lixo da rua e de casas que ligam para nós”, conta Sandra. “O que é lixo para muitos, é a nossa vida e de onde tiramos dinheiro para sobreviver”.
De acordo com o Artigo 225 sobre Meio Ambiente da Constituição Federal de 1988, “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.
Mas como fazer uma boa ação corretamente? A agrônoma e especialista em resíduos Dalva Sofia Schuch explica. Primeiro, deve-se separar exatamente o que é reciclável, orgânico e descartável e encaminhar cada um para o seu devido lugar, esclarece Dalva. “Os recicláveis devem ser administrados para cooperativas ou coleta seletiva e o que é orgânico deve ser direcionado para as composteiras. Assim, evitamos de lotar os aterros sanitários”, instrui.
E para quem diz que não recicla por ser complicado e não ter tempo, Dalva revela algumas coisas sobre reciclagem. “A desculpa de dar muito trabalho é para aqueles que não se informam direito. Reciclar não dá trabalho para você, já que o seu papel é só separar e encaminhar”, comenta a agrônoma. “Sobre lavar os produtos, vai do senso de cada um sobre o mau odor, mas eles já serão lavados ao chegar nas cooperativas e, se pensar consciente, será gasto de água”, justifica.
Vale lembrar que os materiais não são recicláveis para sempre. O vidro é 100% reciclável, mas o plástico e o papel têm um limite. A agrônoma também explica que o papel amassado não é reciclado, é preciso picotá-lo para que seja reaproveitado.
Reciclar custa caro, mas é ainda mais barato do que criar um produto do zero. A ação também gera diminuição da poluição e do consumo exagerado. “A consequência da inconsciência é um mundo coberto de lixo e sem vida”, finaliza Dalva.
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