O que disse machista?
- Lanume Weiss
- 6 de fev. de 2021
- 2 min de leitura
Oi, meu nome é Ana. Ou Flávia. Pode me chamar de Maria também. Tem dias que eu sou Larissa e outros eu sou Priscila. Posso ser sua vizinha, talvez sua colega de trabalho ou amiga do seu filho. Às vezes, eu tenho 32. Mas também posso ter 7. Tem uns que dizem que eu sou puta por causa da minha roupa e outros que dizem que a minha função é lavar louça.
Eu escuto tudo quanto é tipo de coisa. "Seu lugar é atrás de um homem". Recebo tudo quanto é tipo de ordem. Já fui totalmente sem direitos e luto até hoje para ter um pouco de igualdade. Já cuspiram em mim, já me queimaram, me bateram e me jogaram pedra. Me mantiveram calada por décadas e quando finalmente soltei minha voz, tiveram medo.
A verdade é que não me respeitam. Quando eu sou capa de jornal, nunca é por um feito, sempre por um desespero. E ainda dizem que os números não são reais. O Brasil é o 5° país que mais me mata. Sabe por que eu morri? Meu ex-marido não aceitou o divórcio. Ou um cara na balada não soube ouvir um não. E também tem o meu namorado que estava estressado. E eu gritei, corri e implorei pela minha vida. As pessoas ouviram, claro que ouviram, mas em briga de marido e mulher não se mete a colher.
Eu escutei uns assovios também e umas palavras de mal gosto. "Essa aí eu arregaçava". Me perseguiram na rua, não importa a hora ou o local, me puxaram de canto e me violaram. É isso que a sociedade faz comigo. Me joga de lado como algo usável e sem direitos. No país, ocorrem mais de 180 estupros por dia. E ainda dizem que é drama quando eu tenho medo de sair de casa. Eles têm coragem de dizer que a culpa é minha. E ficam chateados quando digo que "homem é tudo igual". Desculpa generalizar os homens, mas é que eu já fui estuprada pelo meu pai, meu tio, por um amigo, pelo professor, por um policial e até um padre. Então, na verdade, desculpa nada.
Eu estampo na camisa que não é não e levanto bandeira feminista. Só sou vista como a chata com pelo embaixo do braço que merece ser violentada. Até das minhas iguais eu escuto desaforo, mas não baixo minha cabeça. Me queimem. Me batam. Me xinguem. Mas eu estarei de mãos erguidas. Continuarei lutando, porque tenho força. E saibam que mulher não nasceu para satisfazer prazer de ninguém.
Comments