Tarot: As cartas podem orientar sua vida?
- Lanume Weiss
- 6 de fev. de 2021
- 4 min de leitura

Para tarólogas, a prática terapêutica é uma tradução do inconsciente
Na sala terapêutica, a mesa para tirar o tarô é feita com caixotes, cangas e cadeiras improvisadas. Espalhados no local há velas e incensos para invocar a energia de ancestrais oraculares que auxiliam nas interpretações. Nadia Tomelin, 36, veste um chapéu de bruxa, passa seu batom roxo e, ao lado da bola de cristal, segura as cartas de tarô nas mãos preenchidas por anéis. Não é á toa que é conhecida por amigos e consulentes como Bruxita.
A artesã, residente de Balneário Piçarras (SC), trabalha como taróloga e oraculista há cerca de um ano. Antes de começar os estudos de taromante, em 2019, vendia sua arte na praia, até que conheceu Karin Veloso Schmalz, taróloga há 40 anos, também residente da cidade no litoral catarinense. Karin propôs um negócio para Nadia, expor sua arte na loja que ela abriria e, entre conversas, tocaram no assunto tarô, que despertou interesse na Bruxita.
“Sempre senti uma energia, uma conexão com esta parte esotérica. Karin me emprestou um baralho completo para iniciar o curso e, a partir daí, estudei diariamente para evoluir”, conta Nadia. De acordo com a taróloga, nunca se para de estudar tarô, sempre há mais coisas para se aprender.
Ao terminar o curso, Nadia comprou seu primeiro tarô e iniciou terapias gratuitas com familiares e amigos. Quando as pessoas retornaram a ela, elogiando as previsões e interpretações, dizendo que havia acertado, viu uma oportunidade de começar a leitura cobrando um valor simbólico. Em 2020, já estava trabalhando e recebendo uma renda com terapia holística (baseada nos princípios dos problemas como um todo, e não fragmentado), artesanato, tarô e oráculos.
O dinheiro inicial ajudou na compra de outros baralhos, oráculos e livros para aprimorar mais o conhecimento. “A sintonia com o tarô, as pessoas elogiando meu trabalho, tudo dando certo e tive certeza que podia ampliar meus horizontes”, explica. Como forma de valorizar todo o esforço, aumentou o valor das consultas, mas mantendo um valor acessível. As consultas de 1 hora custam R$ 50,00, já as de 2 horas, que são mais aprofundadas, custam R$ 80,00 e podem ser presenciais ou on-line.
“Meu objetivo é ajudar as pessoas a descobrirem questões sobre elas que não imaginavam, para que possam evoluir, melhorar, transformar, libertar e curar a si mesmas”, comenta Nadia. A taróloga deixa bem claro: tarô não é adivinhação, nem uma prática fantasiosa, é, na verdade, um caminho de autoconhecimento para desenvolver as diversas áreas da vida. “É um auxílio nas interpretações do inconsciente humano e o tarólogo é um conselheiro, orientador e direcionador”.
Tarólogos são um canal
“A minha vida é dividida em antes e depois da Karin”, conta a taróloga Agnes Geiser Arlow, 67. Assim como Nadia, Agnes conheceu o tarô através de Karin. Em 2012, a taromante já estudava dança do ventre e reiki (terapia de canalização de energia). Na cidade natal, Ferraz de Vasconcelos (SP), já tinha contato com o espiritismo, mas ao entrar na loja Mente Sã, no Shopping Atlântico, em Balneário Camboriú, encontrou a funcionária da loja Karin.
Agnes também fez o curso da Karin sobre tarô e astrologia e, assim, iniciou a caminhada por este mundo. Em 2014, cursava Direito. “A lei do homem não é o meu caminho”, diz. Ao estudar os arquétipos (imagens das cartas do tarô, que são primordiais, presentes em nosso imaginário, que ajudam a explicar histórias passadas, vividas por outras gerações), descobriu uma fonte inesgotável de conhecimento e um amor, envolvendo-se também com o baralho cigano. Hoje, realiza atendimentos on-line com pessoas que procuram ajuda no desequilíbrio emocional.
Todo o trabalho que Agnes realiza não é cobrado. De acordo com a taróloga, ela é paga com as energias do universo. “Como cobrar pelo que recebo dos mestres? Como cobrar se são eles que me orientam?”, questiona. Para ela, tarô é seu compromisso reencarnatório. Portanto, não consome alimentos de origem animal, nem industrializados, nem ingere bebida alcoólica, pois tudo isso interfere na energia que ela transmite ao outro. “Foi essa orientação que recebi do plano espiritual. Nunca posso dizer que eu fiz, sou um canal”, completa.
O que é o tarô?
Foi no curso de Pedagogia que Karin Veloso Schmalz, 60, conheceu os arquétipos e o trabalho do psicólogo suíço Carl Jung (1875-1961), responsável por fundar a psicologia analítica. Com o interesse despertado, Karin começou a se envolver mais com tarô, lendo muitos livros e colocando em prática seus aprendizados. São 40 anos trabalhando com tarô, astrologia e constelação familiar.
De acordo com a taróloga, tarô é um livro/jogo composto por cartas/arquétipos, que explicam de forma individual o movimento da trajetória humana. Há um total de 70 cartas de tarô, sendo elas divididas entre 22 arcanos maiores e 56 arcanos menores (dentre os quais 16 são cartas que representam pessoas – rei, rainha, etc). “Arcanos significa mistério e as figuras exprimem ideias, força, poder, medos, cegueiras, oferecidas pela vida”, explica Karin.
Os arcanos menores simbolizam os quatro elementos: água (copas) representa os sentimentos; terra (ouro) é a matéria; ar (espada) é o pensamento; e fogo (paus) é a ação. O objetivo do tarô é orientar situações, mas permite o livre arbítrio do consulente para decidir o caminho. A prática serve para avaliar acontecimentos, entre passado, presente e futuro, orientando um rumo, atitude, entre outros.
A tradição que se estende por seis séculos permanece como um auxílio para tomada de decisões e as respostas vêm pela escolha aleatória das cartas, que mostram o que está nas profundezas do inconsciente. A taróloga ainda diz que não é necessário estar presente, que a leitura das cartas do tarô pode ser feita à distância.
“É através das análises da carta que a pessoa pode ter maior consciência sobre dúvidas, dessa forma, atuando de forma mais positiva e construtiva nas decisões da vida”, explica Karin. “E não tem como mentir para as cartas, o que tem de ser, será revelado”.
A prática está cada vez mais ganhando espaço na atualidade. Dados da plataforma de comportamento do consumidor Spate revelam que as pesquisas nos Estados Unidos por “cartas de tarô” e “como ler cartas de tarô” aumentaram 31,9% e 78,4%, respectivamente, em relação a 2019. “Trabalhando tanto tempo com isso, posso afirmar que o tarô é a ferramenta mais assertiva no processo do autoconhecimento”, finaliza Karin.
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